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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Eleitores podem decidir em plebiscito sobre reforma política

A Câmara dos Deputados volta do recesso esta semana com mais uma proposta para tentar destravar o debate da reforma política: um plebiscito sobre dois pontos centrais das regras eleitorais, a ser realizado em 2014.


O projeto, encabeçado pelo deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), prevê duas perguntas, uma sobre o modo de escolha de deputados e vereadores e outra sobre o financiamento das campanhas.

Os eleitores decidiriam entre o financiamento público, em que são proibidas as doações de empresas e pessoas físicas, e o privado, em que essas doações são permitidas. Haveria também uma opção por um sistema misto.

Hoje, o Brasil adota o financiamento privado, mas as legendas podem usar recursos públicos do fundo partidário para quitar dívidas de campanha. Além disso, os candidatos têm direito ao horário eleitoral gratuito, pelo qual o governo reembolsa emissoras de rádio e TV.

Para que o plebiscito ocorra, o projeto tem de ser aprovado por deputados e senadores. Mas, segundo líderes ouvidos pela Folha, ainda não há entendimento para que sua tramitação avance.

PCdoB

Nas eleições de deputados estaduais, federais e vereadores, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) defende a eleição proporcional por lista partidária pré-ordenada (ou fechada). Nesse sistema, os eleitores votam apenas nos partidos, que definem lista preordenada de candidatos. A distribuição de cadeiras entre as legendas é feita de forma proporcional.

O Partido insiste que a eleição proporcional de lista aberta – atual sistema vigente – é um modelo que já se esgotou historicamente. Já as votações de distritão, distrital e distrital misto são consideradas formas anti-democráticas porque distorcem a vontade do eleitor. O Partido defende ainda o financiamento público puro (ou exclusivo) de campanha — que proíbe as doações diretas a candidatos e partidos. As campanhas seriam financiadas por um fundo público. O relatório, no entanto, não conseguiu reunir apoio suficiente de outras legendas.

Plebiscito

O PT não está entre os apoiadores da proposta do referendo, porque tem receio de que ela esvazie ainda mais o relatório elaborado pelo petista Henrique Fontana (RS) em comissão especial sobre o tema, criada na Câmara em 2011.

O partido defende que o relatório de Fontana —que prevê voto em lista e a criação de um fundo para o financiamento das campanhas — seja primeiro aprovado no Congresso e só depois submetido a um referendo. Na consulta, a população confirmaria ou rejeitaria o que foi decidido pelos parlamentares.

Mudanças

Para Miro Teixeira, o plebiscito é importante para que as mudanças não pareçam ter sido aprovadas em benefício próprio dos legisladores.

Segundo Virgílio Afonso da Silva, professor de direito constitucional da USP, ainda que a consulta popular não seja uma exigência para as alterações, ela pode ser uma maneira de "romper o impasse" que existe sobre o tema.

Já o cientista político Vitor Marchetti, da Universidade Federal do ABC, diz que a consulta pouco acrescentaria. "Há um conjunto de elementos complexos que vão confundir o eleitor e fazer com que o plebiscito não contribua para esse debate."


Informações da Folha de S.Paulo

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Walter Sorrentino: “Precisamos falar mais para a sociedade”


O trabalho organizativo e de construção partidária do PCdoB ganha em 2012 um papel ainda mais destacado na vida de seus quadros e militantes. As comemorações dos 90 anos do PCdoB e a realização das eleições municipais — em mais de 5,5 mil municípios brasileiros — formam os principais pilares da atuação do Partido este ano.

Por Mariana Viel
Walter S Sorrentino: "O documento mais elevado da vida partidária é o Programa pelo qual lutamos".
O secretário nacional de Organização do PCdoB, Walter Sorrentino, define o processo eleitoral como um ponto determinante do processo organizativo do Partido este ano. “A primeira estaca de todo o processo que pensamos é de fato preparar e mobilizar o Partido para a vitória eleitoral. O PCdoB vem preparando esse projeto político afirmativo há dois anos. Tudo que fazemos é construir o Partido para a luta política”, explica o dirigente.

A participação nas eleições municipais deverá reforçar ainda mais o protagonismo político do Partido no cenário nacional. Com candidaturas próprias em 10 grandes capitais brasileiras e em diversos municípios de médio e pequeno porte, o PCdoB promete firmar importantes marcas no pleito. Walter cita a expressiva votação do Partido em 2010, na disputa para o Senado — quando o PCdoB foi o 4º mais votado, atrás apenas do PT, PSDB e PMDB. “Não estou dizendo que somos o 4º partido mais forte, mas esse tino político e a capacidade de nos concentrarmos em torno de determinadas batalhas dão a ideia de nossa força. Acumulamos força para ter 10 candidatos competitivos em 10 importantes capitais. Não dá para lidar com o PCdoB como um partido pequeno”.

“Precisamos falar mais para a sociedade, por isso as eleições são tão importantes. O Partido tem que amplificar a capacidade de falar de tudo que se orgulha para a sociedade. Qual é o Partido que tem 90 anos, tem uma base teórica bem definida, tem um Programa exequível e uma estrutura e princípios organizativos do tipo do PCdoB?”.

90 anos do PCdoB

Mas 2012 representa ainda um marco na história do Partido — que completa no próximo dia 25 de março 90 anos. Ao lado das eleições, foi pensado um intenso processo de afirmação das convicções, da ideologia e da política PCdoB em todo o país. "É o partido mais antigo do país e creio que seja também o mais maduro do Brasil — em termos de saber o que quer e o que fazer para alcançar seus objetivos".

O extenso calendário de comemorações inclui uma variada programação política, cultural e de estudo da própria história do PCdoB. "Estamos pensando em uma ampla mobilização, que reforce a organização partidária. Em função dos 90 anos e das eleições, construímos o projeto de construção partidária para 2012. Vai ser um processo de intenso trabalho ideológico e de mobilização — voltado para o reforço da estrutura organizativa do Partido”.

“Fazemos um grande esforço para sermos fiéis a esse legado que acumulamos em 90 anos de luta e ao mesmo tempo sermos fiéis ao povo trabalhador, à nação e à luta pelo socialismo em nosso país”.

Reforço ideológico

A meta de reforço do trabalho ideológico prevê que todo o Partido passe pelo Curso do Programa Socialista. Do ponto de vista organizativo a estaca central é persistir nas definições retiradas do 7º Encontro Nacional Sobre Questões de Partido — definida por Walter como “uma obra para um período histórico da construção partidária”.

“Em matéria organizativa, os objetivos do 7º Encontro, falam da necessidade de dirigirmos crescentemente o Partido por meio da política de quadros. Quem acompanhou os debates entende bem que essas duas coisas combinadas significam uma revolução, que chamamos de um novo modo de direção organizativa. É um assunto complexo e vamos nos dirigir de novo às direções dos grandes municípios com essa missão. É a partir deles que queremos fortalecer esse caminho".

A necessidade permanente do reforço ideológico também está diretamente associada ao crescimento do Partido. Em 2011, durante o processo de conferências municipais o número de militantes participantes da vida partidária cresceu mais, proporcionalmente, do que o número de filiados inscritos. "É um movimento importante que mostra o estilo do militante do partido. Evidentemente que o trabalho ideológico é voltado para a ideia de vida militante – desde a base. É um partido que, na luta, se mobiliza mediante as suas organizações”.

O dirigente nacional reforça que o Partido está em franco crescimento, e que é uma força respeitada — com forte adesão popular. Em números reais, a meta do PCdoB é alcançar a marca de 400 mil filiados este ano. Segundo Walter, esse crescimento deve estar associado ao trabalho de educação. “O Partido se abriu muito, o que é ótimo. Entra muita gente jovem, da sociedade, do empreendedorismo, da cultura, da ciência e sem uma mentalidade mais aprofundada da ciência política e dos fundamentos marxistas e leninistas. Isso é normal. O que não seria normal era deixarmos de fazer um intenso trabalho de educação dentro do Partido. Essa abertura não significa diluição teórica, política ou organizativa.”.

Programa Socialista


O vértice do esforço de formação dessa nova e ampla militância comunista brasileira é o Programa Socialista do PCdoB. Para Walter, o documento reúne todo o conteúdo da luta política e da própria formação teórica e ideológica do Partido. O Programa se aproxima da realidade concreta, que diz respeito à experiência imediata do próprio militante. O documento indica a luta pelo socialismo (que é o rumo) e o Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento (o caminho).

“O documento mais elevado da vida partidária é o Programa pelo qual lutamos. Ele é assimilável por qualquer cidadão brasileiro. O Curso do Programa Socialista deve mobilizar de novo todas as bases que se organizaram para as conferências do ano passado”.

Mobilizações

Entre 2009 (ano do 12º Congresso) e 2011, a mobilização de base do PCdoB nas grandes cidades cresceu 240% — passando de 830 para cerca de 2400 militantes. Em 2011 o PCdoB cresceu 34%, segundo os critérios de números de filiados e militantes. "Somos um Partido que tem um apelo popular, social, político e cultural".

O secretário nacional de Organização diz que a vantagem de trabalhar planejadamente é substituição das urgências pelo que é importante. “Começamos o ano com um plano, o que também acho muito importante. Devemos regular planificadamente a atividade do Partido. Nosso plano foi divulgado para o todo o Partido para fazer convergir os esforços. É uma agenda de uma pauta nacional que vale para todo o país — com as diferentes características que cada estado tem”.

Do ponto de vista organizativo, segundo o dirigente nacional, “a mosca do alvo” é a instituição de fato dos departamentos de quadros ligados aos 27 estados brasileiros. "É preciso dotá-los de um plano de trabalho na direção do Plano Nacional. Vamos fazer uma reunião entre os departamentos de quadros em março, no Rio de Janeiro. A partir desses pontos de apoio vamos insistir num novo modo de direção organizativa".

Os ataques

Em outubro de 2011, falsas denúncias dirigidas ao ex-ministro do Esporte Orlando Silva e ao PCdoB provocaram uma forte reação da base militante do Partido. Os ataques se transformaram em uma forte campanha da mídia conservadora brasileira e da oposição para atingir a integridade do Partido e tentar frear seu crescimento.

De acordo com Walter, as agressões se revelaram um grande teste para o Partido. “Como uma estrutura de 300 mil filiados e 130 mil militantes se mantém firme? Porque confia na orientação política e porque tem uma política de organização e formação que dá consistência. São pessoas que vivenciam a realidade política e sabem que aquelas denúncias eram mentiras. O Partido reagiu em uníssono, o que demosntra também grande espírito político”.

“Como uma pessoa poder ter confiança na orientação política se não estiver suficientemente informada? Como é que um militante pode estar suficientemente informado se o Partido não tiver uma vida interna democrática e organizada? Uma coisa leva à outra. Se a pessoa acha que o dirigente está separado da massa de militantes e não há informação, transparência e democracia no debate interno isso não acontece”.


Celebrar a luta do povo, festejar os 90 anos do PCdoB

Reunida em São Pualo nesta sexta-feira (27), a Comissão Política Nacional do PCdoB aprovou uma nota em que faz um chamamento aos militantes, amigos e o povo brasileiro a se incorporarem nos festejos comemorativos do 90º aniversário do partido



Neste ano de 2012, a legenda partidária de mais longa presença na história brasileira comemora a épica passagem de 90 anos de sua fundação.


Em 25 de março de 1922, na cidade de Niterói, Rio de Janeiro, pelas mãos de um grupo de intrépidos trabalhadores nasceu o Partido Comunista do Brasil. Seu itinerário de 90 anos de lutas se funde com as diferentes etapas da história do país. Constante nesta trajetória é a bandeira do socialismo que nos seus punhos se manteve sempre alta. Socialismo que, na atualidade, – rejuvenescido e renovado pela experiência histórica – é apresentado pelo PCdoB como a alternativa capaz de assegurar um novo avanço civilizacional para o Brasil – salto este que hoje tem por caminho a realização do Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento.

Esta trajetória que vem desde a República Velha, atravessa ditaduras, regimes autoritários, pequenas ilhas de liberdade, até a contemporaneidade – quando, desde 1985, o PCdoB vive seu período mais duradouro de atuação legal –, resulta num legado de batalhas e realizações em prol da democracia, da soberania nacional, dos direitos dos trabalhadores, da paz e da solidariedade entre os povos. Tal legado é fruto da militância revolucionária de várias gerações de comunistas nas quais estão presentes inúmeros heróis do povo brasileiro.

Desde os fundadores de 1922 – simbolicamente personalizados no talento de Astrojildo Pereira – aos que o dirigiram nos tumultuados e enriquecedores anos de meados do século passado – cuja expressão é o destacado líder popular, Luiz Carlos Prestes –, até o período recente quando se agiganta o papel de João Amazonas como construtor e ideólogo do Partido Comunista que vicejou e se projetou para o século 21.


Conforme a tradição de nossa gente de festejar quando as colheitas são boas, o PCdoB convida o povo, suas personalidades e forças sociais e políticas democráticas e progressistas, para participarem da agenda de eventos e festejos comemorativos dos 90 anos do Partido Comunista do Brasil. É uma festa dos comunistas, dos trabalhadores; é uma festa da democracia brasileira da qual o PCdoB tem sido um guardião, mesmo à custa de muitas vidas. Os democratas, os patriotas são todos bem-vindos às comemorações deste acontecimento histórico.

Atos de alegria e confraternização irão ocorrer por todo este país continental, de Norte a Sul. De formas diversas, mas com semelhante regozijo, irão se manifestar entre os operários e assalariados; entre os sertanejos e os camponeses; entre a juventude, as mulheres, os intelectuais; enfim, entre o povo brasileiro de toda parte! Cada um, ao seu modo, irá fazer ecoar o legado dos comunistas, tão bem sintetizado num poema de Pablo Neruda, o poeta chileno, quando diz que o Partido deu voz, boca e ação aos humildes e oprimidos. Com o Partido,

"O escravo sem voz nem boca,
o extenso sofrimento,
se fez homem, se chamou Povo,
Proletariado, Sindicato,
ganhou pessoa e postura".

É justamente isto que tem feito o Partido nestas nove décadas de existência.

A agenda nacional de comemorações está definida e em acelerada preparação. Eis a programação:

1) Festa nacional dos 90 anos do PCdoB. Festa com programação cultural e política. Dia 24 de março, na cidade do Rio de Janeiro, na Casa VIVO RIO, a partir das 19 horas. Presença de representações do Partido de todo o país. Serão convidados aliados e amigos e delegações internacionalistas.

2) Sessão Especial do Congresso Nacional em homenagem aos 90 anos do Partido Comunista do Brasil, PCdoB. Brasília, Plenário das Sessões do Senado Federal, dia 26 de março, às 17 horas. Presença de delegações do Partido de todo o país. Serão convidados: dirigentes partidários, lideranças parlamentares e do movimento social, autoridades dos Poderes da República, convidados internacionalistas e representações diplomáticas.

3) Exposição Iconográfica: 90 anos de história do PCdoB. Brasília, Câmara dos Deputados, de 15 a 31 de março. (Haverá uma versão compactada desta exposição que poderá ser confeccionada separadamente e exposta em todo o país.)

4) Seminário PCdoB 90 anos: história, legado, marxismo e Programa Socialista. São Paulo, SP, dias 20 e 21 de abril. Auditório da Universidade Paulista, UNIP, Unidade Vergueiro. Presença de quadros e militantes de todo o país e convidados.

5) Programa de TV e Rádio alusivo aos 90 anos do PCdoB, dia 29 de março, às 20:30 horas, duração de 10 minutos. As organizações do Partido devem promover eventos em todo país para se assistir o programa, seguido de debates, atos e festas locais de comemoração.

As direções partidárias, o coletivo militante, todos são chamados ao engajamento entusiástico pelo êxito das comemorações que devem ser um acontecimento na vida do Partido e da sociedade. A vitória requer o empenho pela vitória dessa agenda nacional e, também, por uma rede de eventos nos estados e municípios que deve ser desde agora preparada. Exige também o esforço para a campanha de finanças com a venda do Bônus dos 90 anos.

As comemorações devem materializar o papel político crescente da legenda comunista no Brasil de hoje e o esforço pela educação ideológica de suas fileiras militantes. As responsabilidades que exerce perante o povo e a Nação, desde sua presença no governo da presidenta Dilma Rousseff até sua atuação e seus vínculos com a luta dos trabalhadores e ao valor que atribui à batalha de ideias.

Festejar os 90 anos do PCdoB é celebrar a luta do povo, força motriz das grandes mudanças! Enaltecer seu legado e sua história anima e alimenta de energia transformadora a atual geração de revolucionários em face das batalhas do presente e dos desafios do futuro!

São Paulo, 27 de janeiro de 2012

A Comissão Política Nacional do Partido Comunista do Brasil

Prosa e Poesia

Hino ao crítico

Vladimir Maiakovski

Da paixão de um cocheiro e de uma lavadeira
Tagarela, nasceu um rebento raquítico.
Filho não é bagulho, não se atira na lixeira.
A mãe chorou e o batizou: crítico.

O pai, recordando sua progenitura,
Vivia a contestar os maternais direitos.
Com tais boas maneiras e tal compostura
Defendia o menino do pendor à sarjeta.

Assim como o vigia cantava a cozinheira,
A mãe cantava, a lavar calça e calção.
Dela o garoto herdou o cheiro de sujeira
E a arte de penetrar fácil e sem sabão.

Quando cresceu, do tamanho de um bastão,
Sardas na cara como um prato de cogumelos,
Lançaram-no, com um leve golpe de joelho,
À rua, para tornar-se um cidadão.

Será preciso muito para ele sair da fralda?
Um pedaço de pano, calças e um embornal.
Com o nariz grácil como um vintém por lauda
Ele cheirou o céu afável do jornal.

E em certa propriedade um certo magnata
Ouviu uma batida suavíssima na aldrava,
E logo o crítico, da teta das palavras
Ordenhou as calças, o pão e uma gravata.

Já vestido e calçado, é fácil fazer pouco
Dos jogos rebuscados dos jovens que pesquisam,
E pensar: quanto a estes, ao menos, é preciso
Mordiscar-lhes de leve os tornozelos loucos.

Mas se se infiltra na rede jornalística
Algo sobre a grandeza de Puchkin ou Dante,
Parece que apodrece ante a nossa vista
Um enorme lacaio, balofo e bajulante.

Quando, por fim, no jubileu do centenário,
Acordares em meio ao fumo funerário,
Verás brilhar na cigarreira-souvenir o
Seu nome em caixa alta, mais alvo do que um lírio.

Escritores, há muitos. Juntem um milhar.
E ergamos em Nice um asilo para os críticos.
Vocês pensam que é mole viver a enxaguar
A nossa roupa branca nos artigos?

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Comissão Política do PCdoB em Terezinha se reúne nesta sexta

A Comissão Política do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) em Terezinha realizará nesta sexta-feira, dia 27, sua 1ª Reunião em 2012.
Entre os vários temas que serão abordados, o principal será a organização dos comunistas terezinhenses para a disputa das Eleições Municipais de outubro próximo.
A 1ª Reunião da CP vai ser ampliada e contará com a participação de militantes do Partido como convidados.

Nas pesquisas, duas coisas diferentes

Luciano Siqueira

 


Aqui vale aquela expressão “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. Nas sondagens de opinião pública feitas nesta fase pré-eleitoral, destinadas a prospectar tendências num cenário ainda em formação, há que separar duas coisas distintas – que se entrelaçam, é verdade, mas têm curso próprio. Refiro-me à avaliação da gestão e à avaliação do gestor como possível candidato à reeleição.

É evidente que uma gestão que apresente, na pesquisa, um saldo positivo consistente pelo somatório dos itens regular, bom e ótimo reforça as possibilidades do gestor, caso venha a se candidatar. Um saldo negativo atrapalha.

Mas a vida tem sido rica em situações em que mesmo com uma gestão bem avaliada aos olhos da população, o gestor não recolhe índices semelhantes. Não é bem aceito, nem desperta entusiasmo como possível candidato.

De outra parte, registram-se situações em que o saldo nas pesquisas era negativo, porém a imagem do gestor crescentemente positiva. Em Olinda, por exemplo, nos seus dois mandatos consecutivos, a então prefeita Luciana Santos amargou saldos negativos nas pesquisas quase que até o fim da gestão, refletindo-se nisso a contradição marcante entre o volume de problemas sociais e físicos da cidade e os recursos organizacionais e financeiros disponíveis. Problemas de cidade grande, arrecadação própria de cidade pequena. No entanto, a prefeita se reelegeu muito bem no primeiro turno e elegeu o seu sucessor, o atual prefeito Renildo Calheiros, com votação histórica também no primeiro turno.

A explicação está em que, a despeito dos muitos problemas e da natural e compreensível insatisfação da população, a prefeita adotou sempre uma postura política ousada, em contato permanente com as áreas problemáticas da cidade, debatendo in loco as soluções e os limites financeiros do governo, assim como sempre se relacionou amplamente com os mais diversos segmentos da cidade – do movimento social organizado ao empresariado e as igrejas. Olhos nos olhos, a sinceridade a flor da pele. E credibilidade sempre em alta.

Ou seja, correm juntas, separadas ou articuladas, a gestão administrativa e a postura política. Daí porque me parece correta a assertiva de que o governante governa e a equipe de secretários e dirigentes administra. Cabe à equipe, sob orientação do governante, otimizar os recursos humanos e materiais e fazer o melhor possível. Cabe ao governante acompanhar e controlar, enquanto se relaciona amplamente com todos os atores em presença, internamente à gestão e sobretudo na sociedade, incluindo o diálogo com partidos e forças sociais que lhe dão sustentação.

Por mais complexa e exigente que seja a gestão administrativa, a política há sempre que estar no posto de comando – para bem governar e para liderar a coalizão partidária e social que sustenta o governo.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Comunistas de todo o país participam de curso teórico em SP

Militantes de 20 estados brasileiros se reuniram nesta sexta-feira (20), em Guarulhos (SP), para participar do Curso Nível 3 do currículo básico da Escola de Formação do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). A programação das aulas - que acontecem até o próximo dia 30 — foram dividas em cinco Núcleos de Ensino e Pesquisa - Filosofia; Estado/Classes; Economia; Política e Desenvolvimento; Socialismo e Partido.

Por Mariana Viel

militantes curso de formação Curso é marco para a consolidação do processo de formação de quadros partidários
Segundo o secretário nacional de Formação e Propaganda, Adalberto Monteiro, a formação de quadros e militantes do Partido sempre esteve presente nas diferentes etapas dos 90 anos de história do PCdoB. Ele explica que na contemporaneidade a exigência da capacitação teórica, política e ideológica do coletivo militante se destaca em diferentes aspectos.

Adalberto ressalta que atualmente o PCdoB tem sido chamado a desenvolver papel de grande responsabilidade no atual quadro político do país. "Temos o grande desafio de fazer avançar o Projeto Nacional de Desenvolvimento e isso envolve luta social-política, mas também ideias e busca de caminhos. Nossos militantes que estão engajados na luta pelo êxito do governo Dilma, no sentido de que ela faça o Brasil avançar, precisam ter uma densidade de argumentos e conhecimentos para participar dessa luta de ideias que alimenta essa jornada do povo brasileiro rumo ao desenvolvimento soberano e democrático de nosso país".

Outra questão que reforça a importância da capacitação da militância comunista é o atual quadro mundial da crise capitalista. "Primeiramente é preciso saber interpretar e entender o alcance e as consequências dessa crise. O marxismo tem se revelado um instrumental teórico relevante para que possamos compreender a natureza dessa terceira grande crise do capitalismo. Quando o Partido comemora 90 anos, realizar esse curso é mais um passo importante que damos nessa atividade permanente e continuada da Escola Nacional do PCdoB para formar seus militantes e quadros".

Militância nacional

A diretora da Escola de Formação do PCdoB, Nereide Saviani, explica que foram divididos dois dias de atividades e aulas para cada um dos cinco núcleos do curso. "Os cursos partidários trabalham a teoria dentro da perspectiva de armar a nossa militância para a análise da realidade brasileira e mundial. Quem faz um curso como esse está apto a dirigir o Partido e também se instrumentalizar mais para a liderança dos movimentos sociais".

Os participantes também são estimulamos a auxiliar e a integrar o trabalho de formação da militância de base em todo o país. O estudante paranaense e presidente da UPE (União Paranaense de Estudantes), Rafael Bogovi, ressaltou a necessidade de retransmitir os temas debatidos nas aulas. "A formação teórica é muito importante para a vida militante. Esse é um processo muito rico de aprimoramento e de aprendizado, para que possamos repassar esse conhecimento".

Já o professor acreano José Uchoa falou da abrangência e relevância dos temas que serão abordados no curso. "Sempre participamos dos cursos realizados pela Escola de Formação do Partido. Nossas expectativas são excelentes, em função do nível da programação do curso".

Limiar de uma nova época

A aula inaugural do curso — que aconteceu na tarde desta sexta-feira (20) — foi ministrada pelo presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, que abordou o estágio atual da crise do capitalismo, os desafios do governo Dilma e os 90 anos do Partido. Além do aprofundamento de questões teóricas e políticas, Renato disse que o curso promove o estreitamento da relação da direção partidária com militantes que participam do processo de construção do PCdoB.

"A medida que promovemos cursos como esse, temas que a direção vem debatendo são amadurecidos. Tenho tido uma experiência muito valiosa nesse sentido. Comecei a lançar, dois anos atrás, muitas questões que abriram caminho para a construção do Programa Socialista do Partido. A escola não é simplesmente inerte. Ela tem também o papel de ajudar na construção teórica, ideológica e da política do Partido".

Além abordar a conjuntura e as tarefas do Partido, o líder comunista realizou uma análise do atual período histórico. "É um período insólito que tem um aspecto muito importante porque podemos estar na fronteira e no limiar de uma nova época".

Renato falou do crescimento material e das forças produtivas — que atingiram níveis nunca vistos. "O problema é que essas forças produtivas não estão a serviço da maioria da humanidade. O sistema é impotente para isso. Essa é uma questão contraditória que deve ser resolvida. Estamos objetivamente na fronteira e no limiar de questões importantes como as novas fontes de energia, o meio ambiente, as instituições políticas — que passam por uma deterioração —, e o sistema de poder mundial, que vive impasses e mudanças".

"Ao considerar essas questões, mostramos que o desafio é maior porque temos que ter alternativas. Um novo tempo só surge com uma nova alternativa. Toda essa discussão que fazemos aqui sobre a nossa política e o nosso programa é uma discussão sobre a nossa alternativa".

Prosa e Poesia

Prosa e Poesia, espaço dedicado à literatura. Contos, poesias, crônicas, etc.

O Aleijado, Máxim Górki

Foi numa escura e abafada noite de verão que encontrei, numa viela de arrabalde, um estranho quadro: no meio de grande poça lamacenta uma estranha mulher chapinhava na água suja como crianças gostam de fazer. Cantava, ao mesmo tempo, com voz fanhosa, uma canção indecente.
No dia anterior houvera forte trovoada e a pesada chuva tinha dissolvido o barro, a poça estava funda, a água lodosa chegava quase aos joelhos da criatura; a julgar por sua voz ela devia estar embriagada. Achei que se ela escorregasse poderia afogar-se e resolvi tirá-la de lá.
Puxei os canos das botas, entrei na poça e, agarrando um braço da mulher, tratei de puxá-la para um lugar seco. De início, aparentemente assustada, acompanhou-me docilmente. Mas, quando eu menos esperava uma reação, safou o braço direito, bateu-me no peito e berrou:
— Acuuudam!
Em seguida, tratou de voltar para a poça, arrastando-me com ela.
— Diabo! — murmurava ela — Não vou! Posso viver sem você... quero ver você viver sem mim... Socooorro!
O guarda-noturno apareceu da escuridão e, parando a uns cinco passos de nós, perguntou:
- Quem está fazendo escândalo aqui?
Expliquei-lhe que receava que a mulher se afogasse na lama e que tentara tirá-la de lá; o guarda olhou-a atentamente, escarrou com gosto e mandou:
- Saia daí, Mariana!
- Não quero.
- Estou mandando — Saia!
- Eu não.
- Vai apanhar, peste — avisou-a o guarda com toda a calma e, em seguida, informou-me bonachão: — É moradora daqui, cordoeira, chama-se Maria Froliha. Tem um cigarro?
Fumamos. A mulher andava dentro d’água exclamando:
- Autoridades! Sou eu, a minha autoridade... Se eu quiser, tomo banho e acabou-se!
- Toma banho coisa nenhuma! — advertiu-a o guarda, velho forte e barbudo. — São raras as noites em que ela não faz semelhante escândalo. E tem um filho aleijado em casa...
- É longe a casa dela?
- Merece morrer — afirmou o guarda sem responder à minha pergunta.
- Convém levá-la para a casa dela — sugeri.
O guarda riu-se, iluminou-me o rosto com a brasa do cigarro e afastou-se, ruidosamente, pisando o barro molhado.
- Pode levar... mas, olhe a cara dela primeiro.
A mulher sentou-se no meio da lama e, fazendo gestos como se estivesse remando, cantou com voz esganiçada:
— No mar, no vasto mar...
Perto dela brilhava o reflexo de uma estrela; quando seus movimentos encresparam a água, o brilho desapareceu. Entrei novamente na poça, peguei-a por baixo dos braços, soergui-a e empurrando a cantora com os joelhos fui levando-a para a cerca; a mulher resistia, e desafiava-me:
— Bata-me, pode bater! Bata, não faz mal... seu animal, bata!
Encostei-a à cerca, finalmente, e perguntei-lhe onde morava. Ela ergueu a cabeça olhando-me com olhos que antes pareciam manchas escuras e pude ver então que o nariz havia afundado, motivo por que a ponta ficou erguida e, o lábio superior repuxado pela cicatriz, descobria os dentes miúdos e brancos. Parecia que o rosto pequeno e rechonchudo estivesse sorrindo continuamente, de maneira repelente.
- EStá bem, vamos — concordou a mulher.
Partimos, esbarrando na cerca. A saia molhada chicoteava minhas pernas.
— Vamos, meu bem — murmurava a mulher aparentemente voltando a si. — vou agasalhá-lo... posso consolá-lo.
Levou-me ao quintal de um casarão de dois pavimentos. Cautelosamente, como se fosse cega, procurou caminho entre carroças estacionadas desordenadamente, pilhas de caixas, barris e lenha. Parando diante de um buraco nos alicerces, convidou-me a entrar.
Apoiando-me na parede escorregadia, amparando com a destra o corpo mole da minha protegida, desci a custo uns degraus traiçoeiros, chegando diante de uma porta; apalpando, encontrei o trinco, abri a porta e parei, hesitando em prosseguir.
- Mãe, é você? — indagou na escuridão uma voz mansa.
- Sou-u-u...
Forte odor de matéria decomposta de mistura com cheiro de alcatrão estonteou-me momentaneamente. Um fósforo ardeu, sua luz iluminou por instantes um pálido rosto infantil e apagou-se.
— Quem haveria de ser, senão eu?... — disse a mulher pendendo do meu braço.
Novamente, ardeu um fósforo e, desta vez, fina e estranha mão de criança acendeu pequeno lampião a querosene.
— Meu consolador, querido... — exclamou a mulher no instante em que seu corpo tombava sobre uma baixa e larga cama armada num canto do cubículo.
A criança cuidava do lampião e reduzia a torcida, quando ela começava a soltar fuligem. Seu rostinho compenetrado caracterizava-se por um narizinho pontudo e lábios cheios, de menina. O rosto delicado apresentava feições que pareciam desenhadas com fino pincel de grande mestre e parecia deslocado no úmido e escuro cômodo daquele porão. Conseguindo uma chama boa, encarou-me com estranhos olhos peludos e perguntou:
— Embriagada?
A mãe, largada através da cama, soluçava e ressonava.
- Precisa despi-la — falei.
- Então, dispa-a — respondeu o menino baixando os olhos.
Quando comecei a tirar as saias molhadas”, o menino perguntou:
- Apago a luz?
- Para quê?
A criança nada respondeu e lidando com o corpo inerte da mãe, observei o menino: estava sentado dentro de um caixão colocado embaixo da única janela; o lado do caixão trazia em grandes letras a inscrição:
CUIDADO
N. R. & Cia. Ltda.
A parte inferior da janela achava-se à altura dos ombros do menino; ao longo da parede, havia diversas prateleiras estreitas e nestas enfileiravam-se pilhas de caixas de fósforos e caixinhas de papelão. Ao lado do caixão, que abrigava o menino, havia outro de boca para baixo, coberto com papel amarelo, servindo de mesa. O menino cruzara os bracinhos esquálidos atrás da nuca e fixara a vista nas escuras vidraças.
Terminei de despir a mulher, joguei suas roupas molhadas em cima do fogão, lavei as mãos numa bacia de barro que achei no canto e, enxugando-as no lenço, disse ao menino:
- Então, adeus!
Olhou-me e perguntou ciciando um pouco:
- Apago a luz agora?
- Como quiser.
- Vai embora mesmo, não vai deitar?
Esticou a mão apontando a mãe:
- Com ela?
- Para quê? — indaguei, sem propósito.
- Você há de saber — disse o menino numa simplicidade terrível e, esticando-se, acrescentou:
- Todos deitam.
Fiquei confuso e olhei em redor: à direita vi um fogão disforme, louça suja pendurada numa armação, num canto um rolo de cabo alcatroado e um monte de estopa, lenha e um pau de carregar baldes.
A meus pés o corpo amarelo, adormecido da mulher.
- Dá para ficar um pouco com você? — perguntei
O menino olhou-me de esguelha, ao responder:
- Ela só vai acordar quando for dia.
- Não me importa.
Acomodei-me de cócoras ao lado do caixão e contei-lhe como havia encontrado a mãe dele, tratando de dar um cunho humorístico à narrativa:
— ...Sentou-se na lama, ficou a remar com as mãos, cantando sempre...
O menino esboçou um gesto concordando, sorriu mansamente e, coçando o peitinho mirrado, disse:
— É que estava embriagada. Mesmo sóbria ela gosta de brincar. Parece criança.
Pude então observar bem seus olhos. Realmente davam a impressão de estarem cobertos de pêlos; as sobrancelhas muito compridas e pestanas longas e arcadas davam essa impressão. Olheiras azuladas destacavam-se no rosto pálido. Acima da ampla testa branca e lisa aparecia a vasta cabeleira quase ruiva e encaracolada Impossível descrever a expressão de seus olhos. Pude suportar com dificuldade a intensidade daquele olhar que, embora calmamente compenetrado, tinha algo de sobre-humano.
— Que há com as suas pernas?
O menino remexeu no monte de trapos, que lhe serviam de cobertas, e levantando-a com a mão ergueu uma perninha seca, mais parecida com uma raiz ressequida. Pondo-a no bordo do caixão explicou:
- Minhas pernas são assim, as duas. De nascimento. Não andam, não vivem...
- E nas caixinhas, o que há?
- Jardim zoológico — respondeu o menino. Pegou em seguida, a perninha, recolocou-a no fundo do caixote, cobriu-a e sorrindo amistosamente indagou:
- Quer que lhe mostre? Então, sente-se direito; você nunca viu coisa semelhante.
Seus braços compridos e as mãos delgadas moviam-se com surpreendente agilidade enquanto tirava as caixinhas das prateleiras, uma por uma, e as apresentava.
- Não abra, senão fogem! Encosta ao ouvido e escute — que tal?
- Alguma coisa se mexe.
- Isso, é uma aranha safada. O nome dela é Tambor, êeta bicho ladino!
Os maravilhosos olhos do menino brilhavam animados. Os dedos ágeis tiravam as caixinhas, encostavam-nas no ouvido dele, em seguida no meu, enquanto ele explicava:
— Aqui mora uma barata, o nome dela é Anissim. Gosta de contar vantagens, que nem os soldados. Aqui é a casa da mosca. Chama-se Funcionária, é uma peste! Ronca o dia inteiro, xinga a todo o mundo, chegou até a puxar a mãe pelos cabelos. Nem parece mosca — é funcionária, tal e qual, que passa o dia falando mal de todos, mexericando. Aqui está um besouro preto, enorme, é o Patrão; não é mau camarada, só que pau d’água e muito dissoluto. Quando bêbedo fica engatinhando no pátio, pelado, cabeludo, parece um cão preto. Aqui é um besouro, Tio Nicodim, agarrei-o no pátio; é um andarilho malandro, daqueles que pedem esmola dizendo que fazem coleta para a igreja. Mamãe o chama O Barato — também é amante dela. Ela tem amantes à vontade, embora não tenha nariz.
- Ela não bate em você?
- Qual nada! Ela não pode viver longe de mim. Ela é boa, só que bebe, mas na nossa rua todos bebem... Ela é bonita e alegre, o diabo é que bebe muito! Eu peço sempre “deixe, boba, de beber vodca, você pode até ficar rica se deixar”. Ela ri apenas. É mulher — e mulher boba ainda por cima... Mas é boazinha; quando ela acordar você vai ver!
Seu sorriso cativante era tão encantador que senti vontade de chorar, de berrar, de fazer alguma loucura, tal foi a pena e compaixão que senti por ele.
A linda cabecinha balançava no pescocinho magro, parecendo estranha flor tangida pelo vento; o brilho de seus olhos maravilhosos prendia-me mais e mais.
Ao ouvir sua conversa infantil, mas assustadora, eu esquecia por vezes onde me achava, para depois, de repente, voltar à realidade, quando avistava a janela com grades cheias de barro, a bocarra negra do fogão, o monte de estopa e o corpo amarelo da mulher-mãe.
- Gostou do jardim zoológico? — perguntou o menino, orgulhoso.
- Muito.
- Só não tenho borboletas...
- Como se chama?
- Leonhka!
- É meu chará.
- Não diga! E você, que espécie de homem é?
- Nada de especial... como outro qualquer.
- Essa não! Todos os homens são diferentes — são alguma coisa, eu sei. Você é bom.
- Talvez.
- É sim. E acanhado também.
- Essa, por quê?
- Sei que é!
O menino sorriu e piscou-me o olho.
- Mas, por que acha que sou acanhado?
- Está fazendo horas comigo, quer dizer que receia partir de noite!
- Mas, já está amanhecendo.
- Pois é, quando amanhecer irá embora.
- Voltarei para estar com você.
O menino não acreditou, cobriu os maravilhosos olhos com as pestanas e refletindo um pouco perguntou:
- Para quê?
- Para ficar com você. Acho você muito interessante. Posso vir?
- Pode. Muita gente vem aqui...
Suspirou e disse:
- Não acredito que volte...
- Por Deus do céu! Volto, sim!
- Então venha. Venha ver-me, não a mãe, ela que vá lamber sabão! Seremos amigos, nós dois, tá?
- Tá.
- Isso sim. Não faz mal que você é grande. - Que idade tem?
- Vinte e um.
- Eu vou fazer doze. Não tenho amigos, só Katya, filha do aguadeiro, mas a mãe bate nela quando ela vem me ver... Você é gatuno?
- Não. Por que?
Seu rosto é muito feio, tão magro e tem um nariz como os gatunos têm. Dois gatunos costumam vir aqui: um é Sachka, é bobo e mau; o outro é Joãozinho; esse é bem, tão bonzinho como um cachorro. Você tem caixinhas?
- Trarei algumas.
- Traga, sim. Eu não direi a mamãe que você vem...
- Por que não?
- Porque sempre fica contente quando os homens voltam. Gosta tanto de homens — é uma vergonha! Ela é engraçada — minha mãe. Estava com quinze anos quando me deu à luz — e nem sabe como foi! Quando você volta?
- Amanhã, à noite.
- À noite, ela já estará bêbada de novo. Que você faz para ganhar a vida, já que não é ladrão?
- Vendo cidra bávara.
- Não diga? Traga uma garrafa, sim?
- Claro. Bem, tenho que ir indo.
- Então vá. Mas, volta mesmo?
- Sem falta!
O menino estendeu-me ambas as mãozinhas magras e peguei-as com ambas as minhas apertando aqueles ossinhos finos e frios; tratei de sair sem olhar para ele.
Amanhecia. Vênus, o astro da madrugada, brilhava acima das úmidas e dilapidadas casas. Numa carroça próxima do portão dormia um camponês; seus enormes pés descalços sobravam para fora do veículo, a barba dura, aparada em ponta, espetava o céu, os dentes brancos que apareciam através dos fios da barba davam a impressão de que o homem estivesse rindo fazendo pouco caso de tudo e de todos. Um velho cachorro, em cujo lombo aparecia um lugar depilado, onde ele havia levado um jato de água fervente, aproximou-se de mim, cheirou minhas calças e soltou um lamento obrigando-me a sentir pena dele.
As poças d’água nas ruas que, durante a noite foram apenas repugnantes, refletiam o azul do céu e brilhavam sob os raios do sol nascente — esse embelezamento parecia deslocado, desnecessário e portanto ofensivo.
No dia seguinte falei com as crianças que moravam na minha rua e pedi-lhes que apanhassem besouros e borboletas, fui à farmácia e comprei umas caixinhas bonitas, arranjei duas garrafas de cidra, bolachas, balas, uns pães doces — e assim armado fui visitar o meu chará.
O menino recebeu os presentes maravilhado, abrindo desmesuradamente os olhos que, à luz do dia, eram mais encantadores ainda que de noite.
— Oo — ho! — ho! — exclamou com voz baixa que não parecia a de uma criança, — quanta coisa trouxe! Então você é rico? Mas como pode ser isso? — é mal vestido, mas é rico — e diz que não é ladrão? Mas que caixinhas lindas! Meu Deus, nem quero tocar nelas com as mãos sujas... Que é isso? Um besouro, mas que lindo! Parece de bronze, é esverdeado até! ó diabo, quer fugir? Deixe disso!
De repente, gritou todo alegre:
- Mãe! Venha cá, lave-me as mãos! Venha ver só o que ele trouxe! É aquele mesmo, de ontem, o que trouxe você para casa como se fosse um guarda — tudo é dele! É meu chará também...
- Precisa agradecê-lo — ouvi às costas uma estranha voz.
O menino abanou a cabeça diversas vezes, concordando :
— Obrigado, muito obrigado!
O porão estava cheio de estranha poeira cabeluda e através dela tive pena ao entrever em cima do fogão a cabeça despenteada e o rosto disforme da mulher, o
brilho de seus dentes num eterno sorrir que ela nunca podia apagar em seu rosto aleijado.
- Boa tarde!
- Boa tarde! — respondeu a mulher; sua voz rouca era baixa mas animada, quase alegre. Olhava-me de olhos apertados; pareceu-me perceber certa ironia.
O menino esqueceu minha presença; mastigava uma bolacha, cantarolava de boca cheia e cuidadosamente abria as caixinhas — as compridas pestanas lançavam sombras nas faces realçando o azul das olheiras. Através das vidraças sujas, aparecia um sol baço e apagado como o rosto de homem velho iluminando os cabelos encaracolados do garoto. Sua camisa estava desabotoada e pude ver as pulsações de seu coração que, a cada batida, agitava a pele fina do aleijadinho.
A mãe desceu do fogão, molhou a ponta de uma toalha e, pegando a mão esquerda do garoto, quis lavá-la.
— Fugiu! Pare! Fugiu! — gritou Leonhka e começou a remexer nos panos malcheirosos, descobrindo as pernas azuis, imóveis. A mulher riu-se e aos gritos — Pega o fujão! — ajudou na busca.
Quando pegou o besouro colocou-o na mão espalmada e olhando-o com os olhos cor do céu, disse-me com ar de intimidade como se fôssemos amigos de longa data:
- Desses há muito!
- Não esmague! — advertiu-a o garoto. — Sabe, um dia quando ela estava bêbada, sentou-se em cima do meu zoológico — nem sei quantos bichinhos esmagou!
- Esqueça isso, meu bem!
- Trabalhei tanto para enterrá-los!
- Mas, em compensação, quantos não apanhei e trouxe para você.
- Apanhou! Apanhou, sim, mas acontece que aqueles outros eram ensinados. Os que morrem eu enterro embaixo do fogão, sabe? Lá é meu cemitério... Eu tinha uma aranha, chamava-se Minca — era tão parecida com um dos amantes da mãe, um que está na cadeia agora, gorduchão, alegre...
- Filho meu, querido — disse a mulher acariciando a cabecinha do menino com sua mão pequena de dedos rombudos. Empurrou-me com o cotovelo e sorrindo com os olhos perguntou:
- Não é bonito meu filhinho? Que olhinhos tem, hein?
- Tome um olho e me dê as pernas — propôs o garoto sorrindo sem parar de observar o besouro. — Que bicho! Parece de ferro... gordão... Mãe! É parecido com o monge para quem você fez a escada de cordas, lembra?
- Lembro-me, claro!
Rindo-se começou a me contar:
— Sabe, apareceu um dia um monge, grandalhão, custou a entrar até. Perguntou-me então: “Pode fazer uma escada de cordas para mim?” Eu nem ouvira falar em tais escadas; então, respondi que não, que nunca havia feito. “Eu ensino”, disse ele. Abriu a sotaina e não é que toda a barriga dele estava enleada com uma corda fina, mas forte, forte? Ensinou-me. Fiquei fazendo a tal escada, enquanto pensava: para quê será que ele precisa da escada? Deus o livre que tencione assaltar uma igreja!
A mulher riu-se abraçando o filho e acariciando-o sempre.
— Quando ele veio buscar a escada eu falei: Se for para coisa desonesta não entrego. Ele riu-se, assim com ar de espertalhão e respondeu: “Não, isso é para trepar no muro; o nosso muro é muito alto, somos pobres pecadores e o pecado mora do lado de lá do muro — entendeu?” Entendi e rimo-nos juntos, rimos tanto!
— É, você ri muito, até demais — disse o garoto tal e qual um adulto repreendendo uma criança. — Que tal se você fizesse chá para nós?
- Não temos açúcar...
- Compre então...
- Dinheiro também não temos.
- Gastou tudo em bebida! Peça a ele...
Virando-se para mim, o rapazinho perguntou:
- Você tem dinheiro?
Dei dinheiro à mulher; ela não esperou mais nada — saltou
de pé, agarrou o encardido samovar e desapareceu pela porta afora, cantarolando.
— Mãe! Lave a janela. Está escuro, não enxergo nada! Minha mãe é esperta, só vendo — confiou-me o garoto distribuindo cuidadosamente as caixinhas e colocando-as nas prateleiras de papelão dependuradas com barbantes amarrados a pregos, que haviam sido enfiados nos tijolos úmidos. — É muito trabalhadeira. Quando começa a desmanchar cabos para fazer estopa, fica uma poeira! Peço então que ela me leve para fora para respirar ar fresco e ela diz: “tenha paciência filho, agüente mais um pouco, sem você fico triste! Gosta muito de mim. Trabalha e canta — conhece milhares dê canções,
O menino começou a reproduzir uma das canções que aprendera com a mãe, mas foi interrompido pelos sons de um realejo que começou a gemer no pátio. O menino alvoroçado pediu-me que o erguesse à janela para que pudesse escutar melhor.
Levantei o frágil esqueleto contido no invólucro de pele fina e cinzenta. Leonhka enfiou a cabecinha pela janela aberta e ficou ansiosamente imóvel; só as perninhas impotentes balançavam arranhando a parede. O realejo lançava ao ar farrapos irreconhecíveis de uma melodia qualquer, uma criança gritava deliciada e um cão uivava. O aleijadinho absorvia ansiosamente a sinfonia bárbara e produzia sons com a boca fechada, tentando acompanhar a melodia fugidia.
No porão havia menos poeira e por isso enxergava-se melhor. Pude ver sobre a cama da mãe barato relógio de pêndulo. A louça na prateleira continuava suja e grossa camada de poeira cobria tudo. Nos cantos havia grandes teias de aranha e a poeira depositara-se nelas transformando-as em panos fúnebres. O lar do pobre estropiado antes parecia monturo onde as ofensivas características da pobreza saltavam à vista fosse para onde fosse que o observador dirigisse o olhar.
Ouvimos o canto familiar do samovar e, como que assustado por ele, o realejo parou de repente. Em lugar deste, ouvimos a voz feroz de alguém que rosnava:
- ...esfarrapados!...
- Tire-me daí — suspirou o menino. — Enxotaram-nos.
Recoloquei-o cuidadosamente em seu caixão-cama; o menino esfregou o peitinho e, tossindo com receio, disse:
- Doe-me o peitinho, não posso respirar ar de verdade por muito tempo... Escute, você já viu diabinhos?
- Não.
- Nem eu. De noite costumo olhar embaixo do fogão para ver se não aparece algum, mas qual — não aparecem. Não é verdade que os diabos aparecem nos cemitérios?
- Para que queres os diabos?
- É interessante. Quem sabe um deles seria bonzinho? Katya, a filha do aguadeiro, viu um diabinho no porão e assustou-se, mas eu não tenho medo dessas coisas.
Acomodando-se melhor em seu leito, o garoto continuou vivamente:
— Gosto até, gosto de pesadelos, viu? Um dia sonhei com uma árvore que cresceu às avessas — as folhas espalhadas pelo chão e as raízes apontando o céu. Até suei de medo e acordei. Outro dia sonhei com a mãe — ela estava deitada toda nua e um cachorro arrancava-lhe o ventre aos pouquinhos. Tirava um bocado e cuspia, tirava outro e cuspia. Outra noite foi a nossa casa que estremeceu e toca a deslizar pela rua batendo as portas e janelas e a gata da funcionária corria atrás da casa...
O rapazinho estremeceu como se sentisse frio, apanhou uma bala e, tirando-lhe o papel, endireitou-o meticulosamente depondo-o no peitoril da janela.
— Desses papéis farei alguma coisa bonita. Ou, então, darei a Katya; ela também gosta de coisinhas bonitas — cacos de louça, pedaços de vidro, papeizinhos, qualquer coisa. Escute, se a gente alimentar bem uma barata ela pode ficar do tamanho de um cavalo?
Era evidente que o menino acreditava nessa possibilidade, por isso respondi:
- Alimentando bem, é capaz.
- Pois então — exclamou radiante — e mamãe, bobona, acha graça!
Terminou, usando palavra ofensiva a qualquer mulher.
- Ela é tola! Um gato então é fácil fazer ficar do tamanho de um cavalo não é?
- É pena que não tenho comida que chegue — seria tão divertido!
O garoto estremeceu de entusiasmo e apertou o peito com as mãozinhas.
— As moscas ficariam do tamanho de cachorros, e as baratas poderiam puxar tijolos. Se eles fossem do tamanho de cavalos, seriam fortes, não seriam?
- Os bigodes iriam atrapalhar...
- Qual nada! Os bigodes serviriam de rédeas. Ou, então, apareceria uma aranha grande, mas a aranha não deveria ficar maior que um gatinho, senão a gente ficaria com medo. Não tenho pernas, mas se tivesse, iria trabalhar e arranjaria comida suficiente para fazer crescer todos os meus bichinhos. Iria comerciar e compraria para mamãe uma casa, lá no campo. Você já esteve no campo?
- Já, muitas vezes.
- Conte-me como é!
Comecei a contar-lhe dos campos e prados. Escutava-me atentamente; as pálpebras desciam-lhe sobre os olhos, a boquinha abria-se e o garoto parecia estar adormecendo; diante disso passei a falar cada vez mais baixo, mas então, apareceu a mãe trazendo o chá, um pacote em baixo do braço e uma garrafa de vodca enfiada entre os seios.
- Pronto! Já cheguei!
- Que beleza... — suspirou o menino, — só grama e flores e mais nada. Mãe, você poderia arranjar um carrinho e me levar ao campo um dia! Senão eu morro algum dia desses, sem conhecer os campos. Você não presta, mãe... — terminou o garoto, tristonho e ofendido.
A mãe não se ofendeu e aconselhou, com brandura:
- Não me xingue, filho, você ainda é pequeno.
- Não me xingue!... Você está bem, pode ir aonde quer, como um cachorro. Você é feliz... Escute — disse virando-se para meu lado — foi Deus quem fez o campo?
- Decerto foi.
- Para quê?
- Para os homens passearem.
— Campo cheio de flores... — suspirou o garoto. — Eu levaria lá o meu zoológico e soltaria todos... que passeassem à vontade. Mas, diga-me, quem fez Deus?
A mulher quase morreu de riso. Caiu na cama, esperneava e gania entre acessos de risadas sufocantes:
- Ai, ai, ai! Que pergunta! Mas que menino! Matou-me! Matou-me de uma vez!
O garoto olhou a mãe com sorriso condescendente e sem irritação, sem maldade, como se usasse um termo carinhoso, proferiu palavra das mais obscenas.
- Parece criança, gosta de dar risadas, só vendo... — e repetiu o termo obsceno.
- Deixe que ria, isso não ofende a ninguém — defendi a mulher.
- É, ofender, não ofende — concordou o aleijadinho. — Só fico zangado com ela quando não lava a janela. Peço, peço, digo “Mãe, lave a janela; não consigo ver a luz de Deus!” — e ela esquece sempre...
A mãe, lavando a louça, piscava-me o olho dizendo:
— Que tal meu filhinho? Não fosse ele eu me jogaria no rio, por Deus do céu! Ou me enforcava.
Dizia-o sorrindo.
De repente, o menino perguntou-me:
- Você é bobo?
- Não sei. Por que?
A mãe diz que é...
- Ora, mas não vê por que eu disse? — exclamou a, mulher sem se constranger por Isso. — Trouxe da rua mulher bêbeda, pô-la a dormir e foi-se embora! Foi por isso que falei, não foi por mal — e você conta...
A mulher falava como criança, seu fraseado lembrava o de meninas adolescentes. Seus olhos também eram límpidos, jovens, tanto mais espantoso era seu rosto desfigurado, seu lábio repuxado e dentes a mostra.
— Vamos tomar chá! — convidou ela solenemente. O samovar, sobre uma caixa ao lado do menino, soltava alegres fiapos de vapor e o garoto apanhava-os sonhador e, sentindo na palma da mão a umidade condensada, enxugava nos cabelos cacheados.
— Quando eu for grande, mamãe vai arranjar para mim um carrinho com que eu poderei andar pelas ruas pedindo esmolas. Quando ganhar o bastante para o dia, deixarei as ruas e sairei para os campos...
A mulher suspirou pesarosa: — Ele imagina que os campos são um paraíso! Em vez, lá estão os acampamentos cheios de soldados malvados, camponeses embriagados...
- Mentira — interrompeu-a o garoto. — Pergunte a ele como são os campos. Ele viu.
- E eu, não os vi, também?
- Embriagada?
Discutiram com o ardor e falta de lógica de crianças. Lá fora anoitecia; no céu cor de rosa parou uma grande nuvem imóvel, o porão tornou-se escuro.
O menino tomara uma caneca de chá quente. Transpirou, olhou-nos e disse:
- Comi, bebi e até fiquei com sono — por Deus do céu...
- Então, durma filhinho.
- Mas, se eu dormir ele vai embora. Você não vai fugir?
- Não tenha medo, não; eu não deixo — assegurou a mãe empurrando-me com o joelho.
- Não vá — pediu o menino bocejando. Esticou o corpinho e caiu no leito adormecendo, mas de repente soergueu-se e disse à mãe repreendendo-a:
- Bem que você poderia casar-se com ele, como fazem as outras mulheres; em vez você se dá com todo mundo e eles só batem em você... Ele não bate, é bom...
- Durma, filho, durma — murmurou a mulher debruçando-se sobre o pires com chá.
- Ele é rico...
Por uns instantes, a mulher permaneceu quieta, depois confiou-me como a um velho amigo:
- Assim vivemos, nós dois e mais ninguém. O povo me xinga, dizem que sou rameira! E daí? Não preciso ter vergonha de ninguém. De mais a mais, o senhor vê que cara estragada tenho... qualquer um logo vê para que sirvo. Sim, adormeceu, meu anjinho, minha consolação na vida. Não é bom o meu filhinho?
- Muito bom!
- Não me canso de olhar para ele... É esperto, não é?
- É, sim!
- Só tinha que ser — o pai dele foi um senhor, homem culto; um velhinho. Como a gente chama a esses velhos que têm escritório e vivem escrevendo em papel timbrado?
- Tabelião?
- Isso! Isso mesmo! Foi muito bonzinho, tratava-me bem, fui empregada dele.
A mulher aproximou-se de mim dizendo:
- Morreu de repente. Foi de noite. Mal saí do quarto dele, caiu no chão e morreu! O senhor vende cidra?
- Sim.
- Por sua conta?
- Sou empregado.
A mulher cobriu cuidadosamente as perninhas do filho, arrumou o travesseiro e retomou a narrativa:
- O senhor não precisa de ter nojo de mim, já não estou infectada. Pode perguntar a quem quiser todos me conhecem!
- Eu não tenho nojo.
Pondo a pequena mão com a pele gasta nos dedos e unhas quebradas, ela continuou a falar com acentos de amável gratidão:
- Agradeço-o sinceramente por meu filhinho. Para ele hoje é dia de festa. Foi muito bondoso...
- Tenho que ir.
- Aonde? — perguntou admirada.
- Tenho que fazer.
- Fique!
- Não posso...
Olhou o filho, desviou os olhos para a janela por onde se avistava o céu e insistiu em voz baixa:
— Bem que poderia ficar. Eu cobriria a cara com o lenço... É que eu gostaria de mostrar-me grata pelo filho... Cubro-me, que acha?
Falava de maneira tão irresistivelmente humana, tão ansiosa de agradar! Seus olhos — olhos infantis em rosto deformado —- brilhavam com singular sorriso, não de mendiga, mas de pessoa rica que tem o que dar em agradecimento.
- Mamãe! — gritou o menino de repente, soerguendo-se no leito e estremecendo. — Estão rastejando! Venha! Acuda!
- Está sonhando, coitado — disse a mãe, inclinando-se, protetora.
Saí para o pátio e entreparei pensativo. Pela janela aberta do porão ouvi estranha canção com que a mulher ninava o aleijadinho.
Afastei-me com passos rápidos e lutando para não desatar em soluços.
                                                                                                                            

1917

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O tamanho das pernas de cada um

Luciano Siqueira (deputado estadual pelo PCdoB-PE e membro do Comitê Central)


Quem lê o 18 de Brumário de Luis Bonaparte, que Karl Marx escreveu entre dezembro de 1851 e março de 1852 e veio a ser a primeira análise de conjuntura à luz do materialismo histórico – no caso, sobre a situação política que redundou no golpe de estado que elevou Napoleão III à condição de Imperador da França -, e examina a realidade política imediata, há de concordar que, de fato, nem sempre os homens realizam a luta política conforme seus desejos subjetivos, há uma realidade concreta a ter em conta.


Disso resulta, por exemplo, que no atual cenário pré-eleitoral há que se prestar atenção à consonância ou discrepância entre o desejo expresso de partidos e personalidades e o tamanho das pernas de cada um. Ou seja: há a irrecusável mediação da correlação de forças real. Alguns querem e podem; outros nem tanto.

Isto não quer dizer que a situação presente seja imutável, muito ao contrário. A situação política é algo em movimento, não é uma foto, é um filme. Um filme que está sendo composto sob a influência de muitos fatores, de ordem subjetiva e objetiva. Por isso é preciso ver tendências, possibilidades, perspectivas.

Pesquisas de intenção de voto agora, por exemplo, são obviamente um dado singificativo, mas não dizem tudo. Em 2000, no Recife, o candidato que viria a vencer o pleito, João Paulo, iniciou com 4% de intenção de votos, enquanto o então prefeito Roberto Magalhães ultrapassava os 50%. Havia, entetanto, um ambiente propício à mudança, um sentimento nesse sentido que se alimentava que nem fogo de monturo na população que, mediante o transcorrer da batalha, pôde se expressar e deu no que deu. No segundo turno, por cerca de 8 mil votos de um eleitorado do mais de 700 mil, João Paulo se tornou prefeito.

Daí se depreende que a análise de cenários há que ser abrangente, feita com os pés na terra. A medida das possibilidades de determinadas pretensões, no caso de cidades grandes e médias, implica necessariamente na capacidade de unir forças, mesmo parcialmente. Dificillmente um partido vence sozinho, mesmo os que amealham tempo expressivo na TV. Porque eleição majoritária é um movimento que envolve partidos e segmentos da sociedade - pela manutenção e continuidade do projeto em curso ou pela mudança.

Considerada a correlação de forças real – cotejando os que estão do nosso lado, os que estão do lado oposto, os que podem se deslocar para um ou outro lado e tendências do eleitoado -, cabe adotar a tática a mais ousada que seja combinada com a flexibilidade necessária a arregimentar apoios.

Por enquanto, que cada um ponha a cebeça de fora, diga o que pretende, dialogue, construa, explicite opiniões e propostas. Após o carnaval, a variável tempo exigirá que os partidos sentem-se à mesa em busca de entendimento. Aí valerá a força de cada um na disputa pela hegemonia ou, pelo menos, de uma posição saliente na coligação.

Ver: www.vermelho.org.br

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Comissão Política do PCdoB em Terezinha se reunirá no próximo dia 27

A Comissão Política do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) em Terezinha se reunirá no próximo dia 27 de janeiro. Será a Primeira Reunião da Comissão Política em 2012 e, entre os vários assuntos a serem discutidos, o principal vai ser a organização do Partido para disputar as Eleições Municipais de 2012.
Como já foi dito, repetidas vezes, o PCdoB em Terezinha vai lançar candidaturas próprias para o Pleito de outubro próximo.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Camarada Rosa Luxemburgo: presente!

Em 15 de janeiro de 1919, em Berlim (Alemanha), era assassinada covardemente pelos traidores social-democratas a revolucionária comunista Rosa Luxemburgo. Rosa e Karl Liebnecht fundaram a Liga de Espártacos que mais tarde viria a se chamar Kommunistche Partei Deustchland, KPD (Partido Comunista da Alemanha).
Rosa é o símbolo das mulheres que lutam pela liberdade, pelo socialismo.
Viva a camarada Rosa Luxemburgo!
Viva o Socialismo de Marx, Engels e Lênin!
Viva o PCdoB!

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Prosa e Poesia

Hoje, assim como toda sexta-feira, é dia de Poesia. Hoje, Patativa do Assaré, poeta popular, cearense, camponês, defensor da luta dos orpimidos contra os poderosos.

O Operário e o agregado
Patativa do Assaré











Como sou dou nordeste, vou pedir licença pra não deixar passar o poema do Patativa que citamos no arremesso anterior.
Sou matuto do Nordeste,
Criado dentro da mata.
Caboclo cabra da peste,
Poeta cabeça-chata.
Por ser poeta roceiro,
Eu sempre fui companheiro
Da dor, da mágoa e do pranto.
Por isso, por minha vez,
Vou falar para vocês
O que é que eu sou e o que eu canto:


Sou poeta agricultor,
Do interior do Ceará.
A desdita, o pranto e a dor,
Canto aqui e canto acolá.
Sou amigo do operário
Que ganha um pobre salário,
E do mendigo indigente.
E canto com emoção
O meu querido sertão
E a vida de sua gente.
Procurando resolver
Um espinhoso problema,
Eu procuro defender,
No meu modesto poema,
Que a santa verdade encerra,
Os camponeses sem terá
Que os céus desse Brasil cobre,
E as famílias da cidade
Que sofrem necessidade,
Morando no bairro pobre.
Vão no mesmo itinerário,
Sofrendo a mesma opressão.
Na cidade, o operário;
E o camponês, no sertão.
Embora, um do outro ausente,
O que um sente, o outro sente.
Se queimam na mesma brasa
E vivem na mesma guerra:
Os agregados, sem terra;
E os operários, sem casa.
Operário da cidade,
Se você sofre bastante,
A mesma necessidade
Sofre o seu irmão distante.
Sem direito de carteira,
Levando vida grosseira,
Seu fracasso continua.
É grande martírio aquele
A sua sorte é a dele
E a sorte dele é a sua!
Disso, eu já vivo ciente:
Se, na cidade, o operário
Trabalha constantemente
Por um pequeno salário,
Lá no campo, o agregado
Se encontra subordinado
Sob o jugo do patrão,
Padecendo vida amarga,
Tal qual o burro de carga,
Debaixo da sujeição.
Camponeses, meus irmãos,
E operários da cidade,
É preciso dar as mãos
E gritar por liberdade.
Em favor de cada um,
Formar um corpo comum,
Operário e camponês!
Pois, só com essa aliança,
A estrela da bonança
Brilhará para vocês!
Uns com os outros se entendendo,
Esclarecendo as razões.
E todos, juntos, fazendo
Suas reivindicações!
Por uma Democracia
De direito e garantia
Lutando, de mais a mais!
São estes os belos planos,
Pois, nos Direitos Humanos,
Nós todos somos iguais

PCdoB em Terezinha realiza sua 1ª Reunião em 2012

O Comitê Municipal (Provisório) do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) em Terezinha realizou nesta sexta (dia 13) sua Primeira Reunião em 2012.

Na Reunião, composta pela maioria da Comissão Política (CP) do PCdoB em Terezinha e militantes da base, foram discutidos temas relacionados à elaboração do Programa do PCdoB para as Eleições Municipais de 2012 e sobre a participação dos comunistas terezinhenses na disputa eleitoral.

Mais uma vez, contrariando os boatos de pessoas desinformadas (ou maldosas), o Partido Comunista do Brasil vai lançar candidatos à Câmara Municipal de Terezinha (quatro ou mais nomes), inclusive, contamos com total apoio do Comitê Estadual que está nos dando uma valiosa contribuição com sua linha política justa e sua organização ímpar.

O PCdoB (que completa em março próximo 90 anos de luta), diferente da maioria dos Partidos existentes, realiza debates periódicos com seus dirigentes e militantes de base e vai concorrer ao Pleito de 2012 com todo empenho e com muita garra. Não temos dinheiro, mas temos gana. Nosso Partido Comunista não impõe nada aos seus militantes, tudo é feito na base do centralismo democrático, mecanismo que unifica o coletivo partidário e faz do PCdoB o Partido mais democrático de todos.
Terezinhenses, nasce uma alternativa política em nosso Município: o PCdoB é uma realidade! Quando o povo trabalhador se une, ninguém pode com ele. Levante a BANDEIRA VERMELHA da luta, do suor e do sangue do povo trabalhador! Juntos venceremos!

O lema do PCdoB em Terezinha é OUSAR: OUSAR LUTAR, OUSAR VENCER!
PCdoB, o Partido do Socialismo!

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Prosa e Poesia

Espaço dedicado às artes da escrita. Poesias, contos, crônicas, entre outras criações literárias terão espaço no Blog do PCdoB Terezinha à partir de hoje (toda sexta-feira).

Poema da noite
Vinícius de Moares

No teu branco seio eu choro.
Minhas lágrimas descem pelo teu ventre
E se embebedam do perfume do teu sexo.
Mulher, que máquina és, que só me tens desesperado
Confuso, criança para te conter!
Oh, não feches os teus braços sobre a minha tristeza não!
Ah, não abandones a tua boca à minha inocência, não!
Homem sou belo
Macho sou forte, poeta sou altíssimo
E só a pureza me ama e ela é em mim uma cidade e tem mil e uma portas.
Ai! teus cabelos recendem à flor da murta
Melhor seria morrer ou ver-te morta
E nunca, nunca poder te tocar!
Mas, fauno, sinto o vento do mar roçar-me os braços
Anjo, sinto o calor do vento nas espumas
Passarinho, sinto o ninho nos teus pêlos...
Correi, correi, ó lágrimas saudosas
Afogai-me, tirai-me deste tempo
Levai-me para o campo das estrelas
Entregai-me depressa à lua cheia
Dai-me o poder vagaroso do soneto, dai-me a iluminação das odes, dai-me o [cântico dos cânticos
Que eu não posso mais, ai!
Que esta mulher me devora!
Que eu quero fugir, quero a minha mãezinha quero o colo de Nossa Senhora!

Poema extraído do livro Vinicius de Moraes — Poesia completa e Prosa, Editora Nova Aguillar — Rio de Janeiro, 1998, pág. 262.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

1ª Reunião do PCdoB em Terezinha em 2012

João Amazonas, um revolucionário à altura dos grandes desafios

João Amazonas, construtor e ideólogo do Partido Comunista do Brasil, completaria cem anos neste 1º de janeiro. Ele viveu 90 anos - entre 1912 e 2002 - dos quais dedicou quase sete décadas à atividade política, em defesa das convicções revolucionárias e da construção e consolidação do Partido Comunista do Brasil.


Por Renato Rabelo
 
Conheci J. Amazonas, pela primeira vez, em 1972, quando foi culminada a integração da Ação Popular ao PCdoB. Convivi com este proeminente líder comunista três anos no exílio, em Paris, junto com Diogenes Arruda, na consecução da imprescindível tarefa de reagrupar o Partido e conduzi-lo de fora do país em tormentoso momento, após o duro episódio conhecido como Chacina da Lapa (16/12/76), quando a maior parte da direção central do Partido foi abatida por sanguinário órgão de repressão do regime militar. A anistia alcançada nos permitiu voltar ao Brasil em finais de 1979. Diante de nós, comunistas, o imenso desafio de reestruturar o Partido. Desde então, seguiu uma extensa e profunda relação de convívio político entre eu e Amazonas, do compartilhamento de grandes responsabilidades na edificação do Partido Comunista do Brasil, até sua morte em abril de 2002.

Tive a oportunidade e o privilégio de viver e trabalhar conjuntamente com este ousado revolucionário, abnegado e ardoroso defensor de grandes ideais civilizatórios, sempre atento ao novo tempo, arguto político inserido no curso prático, empenhado na busca incessante da construção de uma nova sociedade, superior ao sistema capitalista – a sociedade socialista na sua plenitude. Para mim foram 30 anos de fértil aprendizado teórico, político e prático. Período mais avançado e rico de minha militância dedicada à causa revolucionária e comunista, que me forjou para melhor puder responder junto com nosso coletivo aos difíceis desafios da atualidade.

Amazonas foi um dos mais proeminentes ideólogos da causa revolucionária em nosso país, e deixou um legado do rico pensamento político, de exemplo de militante revolucionário e um respeitado e influente Partido Comunista do Brasil. E, embora tenha deixado um grande legado de textos escritos e publicados, foi ser um grande construtor do Partido Comunista do Brasil. Sua vida foi um esforço constante de ligação da teoria com a prática, e uma atividade permanente de estreito vínculo com os anseios dos trabalhadores e do povo, e de viver atualizado com sua época.

Como construtor do Partido, teve papel decisivo nas reorganizações comunistas no Brasil, que resultaram no partido que existe hoje. A primeira reorganização de que participou, durante o período da ditadura do Estado Novo, teve seu ponto mais alto na realização, em 1943, da clandestina Conferência Nacional da Mantiqueira. A segunda foi a reorganização ideológica e política de 18 de fevereiro de 1962, com a realização da 6ª Conferência Nacional. Mas é preciso citar também a reorganização ocorrida em 1978 e 1979, na 7ª Conferência Nacional, depois do grave ataque contra a direção comunista no Brasil representado pela Chacina da Lapa, já referida. A resistência contra a maré contrarrevolucionária e anticomunista que acompanhou a crise socialista do início da década de 1990 teve também a envergadura de uma reorganização.

Nela, cujo marco foi a realização, em 1992, do 8º Congresso do PCdoB, João Amazonas teve papel decisivo. Diante daqueles acontecimentos - a derrubada do muro de Berlim e o fim da União Soviética - os comunistas ficaram sujeitos à colossal pressão ideológica com o destampar da onda conservadora e antirrevolucionária. Essa onda se traduziu em muitas situações de rendição e abandono do caminho transformador revolucionário. É nesse momento histórico de profundo revolvimento e ameaça aos ideais comunistas que a figura do eminente revolucionário João Amazonas se revelava. Ele consegue responder a momento tão inquietante com uma contribuição em que vasculha, de modo agudo, nos meandros da vasta experiência revolucionária do século 20, as causas dos revezes, em busca dos ensinamentos essenciais. Sua contribuição teórica e política para o Partido Comunista foi decisiva naquele período, avançando uma compreensão teórica que ele já vinha construindo desde antes da crise do socialismo, nas décadas de 80 e 90, e que refletiam a crise na interpretação e desenvolvimento da teoria marxista.

Nesse esforço teórico, Amazonas localiza um dos ensinamentos fundamentais da vasta e complexa experiência do movimento comunista: não existe um modelo único de caminho e de construção socialista. Apesar de haver uma teoria geral, ela deve levar em conta as particularidades nacionais, históricas, políticas, econômicas, sociais e culturais em conjunção com os pensamentos político e científico avançados da época e de cada país.

No caso do Brasil, sua contribuição foi primordial para a evolução do pensamento estratégico do PCdoB. Mais especificamente no sentido de que existe uma etapa objetiva de transição relativamente prolongada do capitalismo ao socialismo. Ou seja, essa etapa não pode ser determinada arbitrariamente, nem suprimida ou acelerada artificialmente, não havendo uma passagem direta e automática do capitalismo ao socialismo. Essa etapa de transição se constitui, com o avanço da consciência política e social, na conquista de um poder estatal democrático-popular, no aprofundamento da democracia e na defesa da independência e da soberania nacional, de ampla liberdade política para as correntes populares, da existência, ainda, de uma economia híbrida com vários componentes de caráter econômico diferenciado.

A importante contribuição de João Amazonas naquele difícil período do início da década de 1990 ajudou a fortalecer a identidade comunista no PCdoB e extraiu lições da crise, fazendo progredir a teoria e a prática política tornando-as condizentes com a exigência de nossa época, atualizando
nossa compreensão estratégica sobre o desenvolvimento histórico rumo ao socialismo.

Sob a direção de João Amazonas o PCdoB nunca recuou diante de suas responsabilidades históricas. Se o partido fortaleceu sua ação no meio do povo e dos trabalhadores, com crescente presença na luta sindical e nos movimentos sociais, sua presença na luta política de massas no final da ditadura militar também foi decisiva, atuando nas várias instâncias de sua manifestação. Na campanha pelas Diretas Já, em 1984/1985, a militância comunista teve presença intensa. Quando a emenda que devolvia aos brasileiros o direito de votar para presidente da República foi derrotada no Congresso Nacional, o foco da luta contra a ditadura passou a ser a disputa no colégio eleitoral espúrio criado pelo regime dos generais para indicar os governantes. E, nessa mudança de tática, João Amazonas - que, por suas ideias, coerência, persistência, simplicidade e elevado caráter, influenciou e adquiriu grande respeito além dos marcos partidários - teve papel destacado para convencer Tancredo Neves a deixar o governo de Minas Gerais e se candidatar a presidente da República por aquele Colégio Eleitoral. Era um momento delicado da luta pela redemocratização em nosso país, e aquela foi a saída encontrada, com o apoio dos comunistas, para a superação do regime militar. Nos anos seguintes, esse papel se reafirmou quando João Amazonas teve também influência determinante na construção da Frente Brasil Popular, em 1989, que lançou pela primeira vez o nome de Luiz Inácio Lula da Silva para a presidência da República. Este o passo inicial na construção de uma candidatura que seria vitoriosa mais de uma década depois, em 2002, sempre com o apoio construtor e entusiasmado de João Amazonas e do PCdoB, como o próprio ex-presidente Lula muitas vezes reconheceu publicamente.

O PCdoB vive hoje o maior e mais exigente momento de sua história. O partido cresce como nunca, ultrapassa marcas histórias em número de filiados e de militantes; está presente em todos os níveis de governo (da presidência da República a prefeituras), tem uma bancada parlamentar atuante e muito respeitada, tem uma presença forte e ativa nos movimentos sociais, atuando como força dirigente em muitas organizações populares e de trabalhadores. No exterior, é reconhecido e respeitado, e suas opiniões são levadas em conta por comunistas de vários países no momento em que o capitalismo atravessa uma das mais graves (talvez a mais grave) crise de sua história. Este PCdoB, influente e reconhecido, foi o principal legado teórico, prático e político daquele homem simples que foi João Amazonas, um revolucionário que nunca recuou diante das mais difíceis e complexas exigências da luta de classes. O pensamento e o exemplo deste audaz dirigente comunista é um imprescindível guia para a luta desafiadora que o PCdoB tem a percorrer a fim de alcançar os objetivos maiores.


Renato Rabelo é Presidente Nacional do Partido Comunista do Brasil