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terça-feira, 22 de novembro de 2011

A base ideológica da pauta da direita

Eron Bezerra *

No Amazonas há um fato pitoresco, atribuído a um poeta local, que no início do golpe militar de 1964 teve a sua prisão decretada pelos órgãos de repressão. Ao ser informado de que a causa era suspeição de ser comunista, protestou veementemente: “eu não aceitei nem a república, quanto mais o comunismo, eu sou monarquista”.


Essa caricatura, esse reacionarismo, cabe perfeitamente na atual direita brasileira que também ainda não aceitou esses breves 122 anos de república. Não lutam porque é “politicamente incorreto”, mas sonham, nos mais recônditos de seus turvos pensamentos, com a monarquia, com a chibata, com o voto censitário e restrito aos homens e, por que não, com a volta do poder absolutista.
Só isso explica a defesa de pautas reacionárias e sem qualquer pudor até mesmo quanto ao seu grotesco caráter submisso, de “macaqueamento”, como o slogan que o PSDB, por inspiração de FHC, acaba de lançar: ”yes, we care” (sim, nós nos preocupamos), numa clara e admitida cópia do “Yes, we can” (sim, nós podemos) de Brack Obama nos Estados Unidos.
Se na forma a bandeira é uma tragédia por expor o grau de submissão que essa gente tem ao belicoso e falido império americano, no conteúdo é ainda pior. Além da aberta defesa da redução dos serviços públicos (saúde, educação, segurança, etc.) eles querem acabar com o crédito subsidiado que o governo tem dado a agricultura, à moradia, a bolsas de estudantes universitários, e aos trabalhadores de maneira geral, o que proporcionou, junto com outras politicas públicas, que a economia brasileira crescesse, incorporasse milhões de pessoas ao consumo, se situasse entre as 7 maiores economias do planeta, mesmo numa conjuntura internacional de profunda crise do capitalismo. Mesmo nesse cenário o Brasil seguiu em frente e hoje caminha para o pleno emprego (algo como 5% de desempregados), quando nos Estados Unidos e Europa esse índice oscila entre 10 e 20%. Ainda bem que com a derrota da direita em 2002 nos livramos desse receituário elitista e atrasado, anti-povo.
O que a direita quer é precisamente evitar que essa gente simples tenha acesso a bens de consumo que eles consideram privilegio apenas deles, como o direito de moradia, de comer e até mesmo de viajar de avião, algo até bem pouco tempo era restrito as camadas de maior poder aquisitivo. Eles querem interromper tudo isso.
Mas de onde vem tanto ódio e tanto reacionarismo?
O ódio vem do conteúdo de classe. Eles se consideram superior ao povo e por isso precisam que o povo permaneça pobre, inculto, morando em condições subumanas para que eles possam “reinar” sem contestação.
E o reacionarismo vem de pensadores ultrarreacionários como Thomas Hobbes e Friedrich Hayek e seus confrades de Mont Pelerin (Milton Friedman, Lionel Robins, Karl Popper, dentre outros).
Thomas Hobbes assentou na sua obra o Leviatã (1651), os fundamentos do reacionarismo argumentando, em essência, que o homem é eminentemente mau, perverso e corrupto, assim a única forma de viver em sociedade é através de um contrato social em que ele abre mão de seus direitos em favor de um soberano com poderes absoluto (o Leviatã).
Anos depois, na década de 40, Hayek e seus confrades vão desenvolver esse pensamento no livro intitulado “Caminho da Servidão”, no qual eles defendem abertamente o aumento do desemprego (exército de reserva), o fim de qualquer proteção social aos trabalhadores (restrição a aposentadorias, cobertura de saúde e educação, por exemplo), intransigência absoluta contra toda e qualquer reivindicação trabalhista (repressão à greve), fim da presença do estado na economia (privatizações) e combate sem tréguas ao socialismo que vicejava na Rússia. Era o neoliberalismo.
Não era possível levar tais ideias adiante num momento em que a então União Soviética crescia e desenvolvia uma sociedade que era exatamente o oposto de tudo isso. Assim, as teses de Hayek ficaram na geladeira até o desmonte da experiência socialista da União Soviética e veio com força quando encontrou eco em gente como Pinochet (o primeiro a aplicar), Helmut Kohl, Margareth Thatcher, Fujimori, e os “Fernandos” no Brasil (Collor e FHC) dentre outros seguidores submissos.
O que está em debate no Brasil e no mundo, mais do que forma, é esse conteúdo programático entre a pauta da esquerda ou de centro esquerda e essa pauta reacionária e elitista que a direita do mundo e do Brasil procuram ressuscitar.

* Secretário de Produção Rural do Amazonas, Membro do CC do PCdoB, Secretário Nacional da Questão Amazônica e Indígena e doutorando em "Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia".

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