De braços abertos e mãos dadas
Cá em terras pernambucanas, a gente costuma dizer que para não ser engolido tem que abrir os braços. No cenário mundial em evolução – marcado pela crise que atinge principalmente os EUA e a Europa e pela transição a uma nova ordem multipolar – abrir os braços é necessário. Não apenas para se defender de ameaças externas às economias nacionais; mais do que isso, erguer a cabeça e passar à ofensiva.
Foi o que aconteceu em Caracas, dias atrás, quando 33 presidentes dos países da região deram um passo adiante para viabilizar a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). Não apenas abriram os braços; deram-se as mãos no intuito de caminhar juntos, inspirados na solidariedade e no progresso comum.
Um fato relevante sob todos os títulos, especialmente porque congrega nações que entrelaçam situações muito diversificadas, interesses até contraditórios em certa medida, mas convergentes na busca do desenvolvimento econômico e social soberano e democrático.
A constituição da Celac coroa um vitorioso movimento de resistência (no qual o Brasil, então liderado pelo presidente Lula, teve desempenho destacado) que derrotou o intento norte-americano de criar a Alca (Organização de Livre Comércio das Américas) proposta pelo governo Bush com a anuência subserviente do Brasil de Fernando Henrique Cardoso. Com a Celac dá-se o inverso: o subcontinente sul-americano e o Caribe recusam-se ao papel de quintal da grande potência e firmam a disposição comum de trilhar caminho próprio.
Iniciativa de tão relevante significado certamente contraria os interesses de elites conservadoras dos países associados, que ainda se apegam à orientação neoliberal, apesar do desastre eloquente da atual crise global. No Brasil mesmo, os arautos da subserviência torcem o nariz, como sempre fizeram em relação ao Mercosul - dispostos permanentemente a apontar naturais dificuldades e conflitos comerciais entre o Brasil e Argentina como sinal de inviabilidade (sic) da integração sul-americana.
Da mesma forma, sentem-se incomodados com gestos políticos como o adotado ao final da reunião de Caracas, pela rejeição mútua ao bloqueio dos Estados Unidos a Cuba, através de documento em que acentuam que o embargo comercial e financeiro firmado pelo governo norte-americano desde 1962 causa muitos prejuízos ao povo cubano, além de afetar a paz e convivência entre as nações do continente.
O Departamento de Estado norte-americano, outrora arrogante numa situação dessas, como que refletindo os sinais dos novos tempos, emitiu nota cautelosa em que afirma que "os grupos sub-regionais são potencialmente importantes representantes do hemisfério e podem ser parceiros úteis para os Estados Unidos”.
Agora é acompanhar a agenda da Celac e torcer para que se consolide como instrumento da unidade dos povos dessa parte do Globo, tão sonhada desde Bolívar e Guevara a Lula.
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