O modo coerente e tranquilo do PCdoB – Partido Comunista do Brasil de fazer política e exercer sua militância foi destacado pelo deputado Luciano Siqueira em entrevista concedida à Rádio Folha na manhã desta terça-feira (04). Na conversa, Luciano, que é também dirigente da legenda, avaliou ainda o cenário pré-eleitoral no Recife e em municípios da Região Metropolitana onde os comunistas se preparam para disputar o pleito do próximo ano.
Leia abaixo a íntegra da entrevista.
Rádio Folha - Em Camaragibe, o PT entregou os cargos que tinha na gestão do PCdoB, do prefeito João Lemos. Em Olinda, o PT também vai entregar os cargos que detém na gestão de Renildo Calheiros. Você é do PCdoB e deve estar acompanhando tudo de perto. Já tem alguma informação sobre isso?
Luciano Siqueira - Não, eu estou informado que em Camaragibe, de fato, os companheiros do PT pediram ao prefeito João Lemos exoneração dos seus cargos na medida em que tinham uma participação importante no governo municipal e consideraram que, na medida em que preparam uma candidatura de oposição ao campo que o prefeito lidera, eles preferiram se ausentar do governo. Quanto a Olinda eu não tenho nenhuma informação nesse sentido.
Rádio Folha - Conversei recentemente com um comunista olindense da alta cúpula que disse estar muito chateado com a posição do PT, que está lançando pré-candidatura em Ipojuca, Cabo, Paulista e também discutindo a pré-candidatura em Olinda. Ele me falou que quando chegar na questão do Recife, quando o PT exigir ou colocar na mesa a proposta de uma grande aliança o PCdoB poderia dizer que não é bem assim que a banda vai tocar. É assim que vocês vão tratar?
Luciano - Não necessariamente, não exatamente assim. Veja bem, você está falando de pré-candidatura, pré é pré, é uma proposta, uma hipótese, uma alternativa. É natural que nessa fase pré-eleitoral, sobretudo até o dia 7, quando existe a possibilidade legal de quadros que detêm mandato ou não mudarem de legenda e as composições sendo ensaiadas para as eleições do ano que vem, é natural que surja alguma ansiedade da parte de alguns. Mas, preferimos tratar esse assunto com muita tranquilidade, paciência, porque na verdade nós estamos nos aproximando de um grande desafio.
Qual é o desafio? As eleições de 2012 não podem e nem devem acumular sequelas entre as forças que compõem a Frente Popular que possam ser irreversíveis ou irremediáveis para 2014. A unidade da Frente Popular tem dado certo, tem sido importante para a construção do desenvolvimento de Pernambuco, foi e continuará sendo importante para vitórias eleitorais. Portanto, nós precisamos encarar esse período de eleições municipais com paciência, tranquilidade e compreensão. Porque a Frente Popular tem 18 partidos e é praticamente impossível que 18 partidos estejam juntos nas eleições municipais em todos os municípios, inclusive nas cidades grandes como a Capital e cidades como Olinda, Jaboatão, Camaragibe, Paulista etc.
Ora, se é próprio das eleições municipais a disputa local se dar inclusive entre forças políticas que no plano estadual ou no plano federal estão solidamente unidas, é necessário consenso, equilíbrio, maturidade para as disputas locais, sem que isso signifique fissuras, rupturas, definitivas na Frente Popular.
Rádio Folha – Você agora você está pedindo paciência, calma, mas só pelo fato do deputado Odacy Amorim ter deixado o PSB para se filiar ao PT na intenção de disputar a Prefeitura de Petrolina, ontem o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, deixou os afazeres de ministro e assinou uma carta fazendo severas críticas ao Odacy Amorim e ao PT e ainda ameaçou dizendo que, se o PT lançar Odacy Amorim lá em Petrolina o PSB lançará candidato no Recife, ou seja, a briga está lá no Sertão, mas está atingindo aqui o Cais.
Luciano - Pelo PCdoB, nós instamos as demais forças da Frente Popular a terem calma, paciência, serenidade e bom-senso. Nós não podemos responder por companheiros de outras legendas partidárias, não posso responder pelas atitudes do ministro Fernando Bezerra Coelho.
Rádio Folha – Mas, essa atitude de Bezerra Coelho é a mesma atitude que certas pessoas do seu partido, o PCdoB, em Olinda, estão pensando em tomar: “Se Tereza for candidata aqui então a gente não tem compromisso no Recife”.
Luciano – Eu desconheço isso. A principal liderança do PCdoB de Olinda é o prefeito Renildo Calheiros e o prefeito Renildo Calheiros tem se comportado exatamente com eu estou dizendo: com muita tranquilidade, com bom senso. Aliás, a experiência acumulada pelo prefeito Renildo Calheiros ao longo dos anos o credencia para ter essa atitude, que é a atitude que o PCdoB adota e recomenda a todos os seus filiados. Não creio que parta de Olinda ou de qualquer outro município nenhuma atitude de parte de líderes do PCdoB que contribua para o açodamento, para ansiedades e para fissuras que possam tornar irremediáveis a Frente Popular.
Rádio Folha - O senhor está pedindo muita paciência e muita calma, mas esse momento até o dia 7 de outubro é o momento contrário, é o momento de muita agitação, de correria, de gente indo atrás de partido e partido indo atrás de gente. O PCdoB como está correndo nesses minutos finais do prazo de filiação?
Luciano - O PCdoB abriga em suas fileiras no Recife e em todos os cento e poucos municípios onde está organizado homens e mulheres honestos, sinceros, interessados em servir ao povo e à sociedade pernambucana, seja como pretendentes às candidaturas a prefeitos, sejam como pretendentes às câmaras municipais. Aqui e acolá nós temos sido vítimas de alguma manobra ou alguma pressão deste ou daquele partido aliado no sentido de desviar a intenção de companheiros e companheiras que estavam originalmente desejosos de marchar com o PCdoB no sentido de atrai-los para suas legendas. Nós anotamos, consideramos isso inadequado, não fazemos isso com outros partidos, mas também não fazemos desse fato negativo nenhum fator de desunião no campo de forças do qual fazemos parte. Nós encaramos isso com maturidade, compreendendo que o tempo se encarrega de esclarecer quem age corretamente e quem não age e de separar o joio do trigo.
Rádio Folha - Em 2008, você foi eleito vereador do Recife em uma chapa do PCdoB. Hoje o partido discute a possibilidade de fazer um chapão com o PT, PTdoB, PTB e PSB?
Luciano – Não. O PCdoB, pela segunda vez consecutiva no Recife, vai disputar as eleições em chapa própria para vereador. Nós estamos concluindo a montagem de nossa chapa, que será uma chapa competitiva destinada a fazer bancada e haveremos de travar um bom combate, respeitando as chapas em coligação ou em separado dos demais partidos que compõem a Frente de Esquerda do Recife.
Rádio Folha - O convite para o vereador Vicente André Gomes sair do PCdoB é irreversível, pois ele está sem partido?
Luciano - Essa questão do vereador Vicente André Gomes já foi devidamente esclarecida. Não há briga e nenhum atrito sério entre o PCdoB e o vereador Vicente André Gomes, há apenas que depois de dez anos da permanência do vereador em nossas fileiras surgiu uma dificuldade de afinar o comportamento do vereador com o modo de trabalhar do PCdoB. Por essa razão, de comum acordo e de maneira pacífica, o PCdoB sugeriu que ele pudesse optar por qualquer outra legenda, com a garantia de que nós não iriamos, como não vamos, reivindicar o mandato de vereador. Nós esperamos que o vereador se abrigue em uma legenda na qual ele possa identificar uma melhor sintonia entre seu modo de agir e de fazer política e o modo da legenda na qual ele venha a se abrigar.
Rádio Folha - Depois de dez anos vocês descobriram que Vicente não é comunista?
Luciano - Não é isso. As coisas não podem ser colocadas nesses termos. Ninguém que chega ao PCdoB já é marxista, já é comunista. O partido, como todo partido, é uma escola. Muitos companheiros chegam e se entrosam e mesmo vindo de outras legendas partidárias assimilam a teoria e a vida política do partido, o modo do partido operar e ficam para sempre. Outros vivem a experiência e, é natural, ninguém é obrigado a permanecer onde está a vida inteira, isso é uma questão de fora íntimo de cada um, tanto que a legislação eleitoral estabelece que qualquer cidadão que pertença a uma agremiação partidária pode dela se desfiliar a qualquer tempo alegando a questão de foro íntimo, a vontade pessoal.
A militância partidária é um ato, uma atitude, de motivação pessoal, não pode estar submetida a nenhum tipo de constrangimento que faça com que alguém que entre em uma agremiação partidária tenha de permanecer nela a vida inteira. O ano que vem farei 40 anos de militância no nosso partido. Nunca desejei sair e espero morrer militante do PCdoB, mas respeito plenamente aquele ou aquela militante que por alguma razão, por alguma circunstância, por algum desacordo com relação ao modo do PCdoB fazer política, fazer a militância, deseje se afastar do partido. Continuarão nossos amigos, nossos companheiros de luta, considero todos eles.
Fonte: www.lucianosiqueira.com.br
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