O acusador, soldado de polícia do DF, João Dias, não foi à Polícia Federal prestar esclarecimentos sobre suas denúncias. Fica claro que ele quer apenas palanque.
Após a reunião com o acusador, os líderes da oposição – PSDB, DEM, PPS e Psol – participaram da audiência para apresentar a proposta de trazer o policial para falar em audiência pública na Câmara. O líder do PCdoB na Câmara, deputado Osmar Júnior (PI) , rejeitou a proposta, indagando: “Se ele tem informações aterradoras, porque não apresentou hoje na Polícia Federal?”.
Segundo o líder do PCdoB, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF) são os responsáveis pela condução dessa investigação. “Ele (João Dias) quer palanque, ele procure em outro lugar; e se tem prova leve para a Polícia Federal e o Ministério Público Federal”, afirmou Osmar Júnior, explicando que “uma comissão como essa não conclui investigação, ela levanta indícios para que os órgãos do Estado possam atuar na investigação, inquérito e relatório para ir para Justiça”.
“Não queremos perder tempo, queremos a questão esclarecida, resolvida”, enfatizou o parlamentar, provocando aplausos da plateia que lotou o pequeno auditório.
O líder do Governo, deputado Cândido Vacarrezza (PT-SP) reforçou as palavras do líder comunista. E insistiu: “se ele tem prova, se tem gravação, porque não apresenta à Polícia Federal e fica nas coxias com a oposição?”
Ele, a exemplo do que fez vários parlamentares, elogiou a postura do ministro de vir à Câmara, ir ao Senado e à Controladoria Geral da União para dar todas as explicações. Disse ainda que, como líder do governo, confia no ministro Orlando Silva, elogia e concorda com a iniciativa de facilitar investigação e responder “de forma dura, concisa e precisa a tempo”.
“Não é pelo fato de uma pessoa acusar outra que ela é culpada”, afirmou Vacarrezza, acrescentando que “não saiu nada (na imprensa) que desabone a conduta do ministro”.
Elogios da oposição
Os elogios ao ministro receberam reforço do deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP). Ele disse que, apesar de ser da oposição, não podia deixar de reconhecer a diferença entre a postura do ministro, que apresentou as provas contra o acusador e procurou os órgãos de Justiça para apurar as denúncias, e a do acusador, que não apresenta provas e foge dos órgãos da Justiça.
A audiência pública começou com a fala do ministro, que repetiu aos parlamentares o que já havia dito em duas entrevistas coletivas convocadas por ele para esclarecer as denúncias. Ele disse que a matéria publicada na revista Veja no final de semana é “uma narrativa falsa, fundada em mentiras e inverdades, que considero muito grave, porque as acusações foram negadas e assim mesmo foram publicadas”.
Ele também repetiu as palavras com que definiu o policial João Dias. “Quem faz a agressão? Trata-se de um desqualificado, um criminoso, uma fonte bandida”, contando que as acusações surgiram diante do processo administrativo do Ministério do Esporte contra os dois convênios feitos com a entidade dirigida por João Dias.
“Diferente do que se publica, a atitude que temos, desde 2008, é de combater o mal feito. Quem combate a corrupção é o Ministério do Esporte, que exige a devolução dos recursos que não são aplicados. Não interessa qual a entidade”, afirmou o ministro, insistindo que “se há o que denunciar, procure a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e a imprensa, mas prove. Não provou porque não tem prova. Eu que tenho prova do mal feito por ele”, provocando aplausos da plateia.
O ministro anunciou aos deputados as medidas adotadas por ele para garantir a apuração das denúncias, acrescentando que colocou à disposição seu sigilo fiscal, bancário, telefônico. Ao mesmo tempo, desculpou-se pelo “tom a mais”.
“É porque é grande a indignação, que vira revolta, macular a vida a partir de uma mentira de um farsante. Quero mostrar a sociedade brasileira e aos senhores dessa Casa a minha conduta ética e o meu compromisso com o Brasil”, disse, rebatendo também as acusações contra o seu Partido, o PCdoB.
“É uma ameaça à democracia, faz parte da estratégia de desqualificar partidos e a política. Quero rechaçar essa segunda falácia de qualquer esquema para beneficiar partido político”, explicou, destacando que a orientação da presidente Dilma é republicana, de atender a qualquer pessoa independente da ligação política.
Tom de piada
O deputado Sílvio Costa (PTB-PE) fez um contraponto à proposta da oposição de pedir ao ministro que colaborasse com a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). “Ai vem o Vaz (de Lima, deputado do PSDB de São Paulo) pedir CPI enquanto o Alckmin corre de CPI como o Aécio corre do Serra”, disse, arrancando risos da plateia. “O ministro é um homem decente e corajoso. Defendo meu país e um homem de bem”, afirmou o parlamentar, fazendo coro a fala de vários parlamentares que manifestaram apoio e solidariedade ao ministro.
O líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP) também elogiou o ministro, destacando o trabalho na organização dos grandes eventos esportivos. Ele, também como outros parlamentares, questionou o fato desses grandes eventos envolverem questões econômicas, sociais e políticas importantes.
“Existe grau de conflito que permeia a realização do evento de 2014 (Copa do Mundo) e o senhor articula esses eventos em nome do governo Dilma”, disse Teixeira, questionando os interesses que se articulam para atingi-lo.
O líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (PB), usando a linguagem própria do futebol, disse que “se ele (João Dias) tivesse ido a Polícia Federal , como foi convocado, teria feito um gol de placa. Mas, só mentiu, fugiu do jogo, enquanto o senhor fez sua defesa, pisando firme em campo, com torcida leal. Parabéns ministro”, conclui, resumindo o teor de toda a audiência pública que durou três horas e atraiu grande público e interesse da mídia.
De Brasília
Márcia Xavier
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