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domingo, 4 de março de 2012

Prosa e Poesia

Espaço dedicado à Literatura no Blog do PCdoB em Terezinha

Dia de Eleição
Por Clóvis Manfrini* 

Naquela manhã, a Vila acordara mais cedo do que de costume: era dia de eleição. Os primeiros caminhões, velhos chevrolet, vinham carregados de "matutos". Descarregavam, às pressas, aquela massa de gado humano. A cabroeira dos Vieira tangia aquele povo e o conduzia para os currais, os comitês eleitorais. De um lado do quadro central - naqueles tempos ainda não existia a praça - ficava o comitê dos Vieira, ligados ao velho PSD; do outro lado, o comitê eleitoral do rábula Francisco Pereira, conhecido como "doutor" Pereira, udenista de carteirinha, com direito à foto de Lacerda pendurada na parede do seu escritório, que por sinal, ficava em sua prórpria residência, local também do "comitê". Dona das Dores, sua esposa, figura inesquecível, desde o dia anterior à eleição ficava na cozinha preparando os quitutes para os eleitores (não muitos) fiéis ao Pereira. Francisco Pereira da Costa, sujeito balofo, orgulhoso, porém uma figura decente, de cara avermelhada, raspada, suspensórios, gravata, chapéu e terno de linho branco impecáveis, esbanjava um tipo singular de simpatia, lenço na mão a enxugar o suor excessivo que escorria pelas suas costeletas, inundando seu colarinho tão apertado quanto cordão de bomba.
No meio dessa presepada, ficávamos eu e o Barros, ambos calados, pitando nossos cigarros e tomando nossa cerveja, como de costume, observando a marmota que era o vai e vem dessa gente que se dirigia às cabines de votação sem a mínima ideia do que estava fazendo.
O velho Vieira, do alpendre de sua casa, com seus óculos de lentes verdes, chapéu enterrado na cabeça, bengala na mão, já bastante velho, completava o quadro desta patifaria toda.
Aquela comédia sempre dava o mesmo resultado: vitória dos Vieira e acusação de roubo por parte dos partidários do Pereira. A mesma ladroagem, a mesma cachorrada e os infelizes que vinham abarrotados nos velhos caminhões, carregados feito mandioca, voltavam para casa para viver a mesma condição miserável. Nada se modificava. Enchiam o bucho ao meio dia e voltavam com sorrisos de esperança, mas esperança de quê? pois, viviam feito bichos, no meio do mato, comendo preás e tatus.
Terminada a contagem de votos na cidade, coisa que naquele tempo levava alguns dias após as eleições, voltava a cabroeira dos Vieira, gritando, soltando fogos, cheios de cachaça no quengo, certos de que teriam mais um mandato renovado, um mandato de desmando, de arroaças, de ladroagem contra os pobres coitados que ali vegetavam. Eu e o Barros, como sempre, terminávamos nossas lamentações no bar do Souza, pobre do Souza, aguentar dois comunistas rabugentos num lugar perdido como aquele.

*Clóvis Manfrini é secretário de organização do PCdoB em Terezinha (PE).

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